20020905

episódio de hoje: na língua

necessidade. uma grande necessidade de ligar. não calar mais a boca, usá-la da maneira que me for
mais conveniente. é isso mesmo, cada um por si e deus por todos. e não é maldade não, é o que a
gente pode fazer. enfim: a melhor maneira de usar a minha boca era movimentar a língua. dizer
palavras há muito presas e premiar certos corpos com certas doses de efervescência hormonal e
passional. claro, claro, tudo o que eu mais queria era um corpo e é dessa precisão que me referi
mais acima. para isso, o uso do telefone supracitado. mas antes de contar tudo, eu queria
perguntar: com a língua se sente o cheiro?
não tirei o fone do gancho sem antes tomar umas três drágeas que me deixaram meio dormente, na
medida. o modo doentio como lidava com meus sentimentos era preocupante e consciente, a fuga e
o medo de dizer e levar não era paranóico. eu juro que não faria coisa assim em outras condições,
afinal eu tinha que ser uma fortaleza, amada e adorada por todos como nem jesus cristo fora.
que perigo é a mente imatura pensar. pra não fugir mais, tomei os remédios. perdão, não riam de
mim.
alôs sem graça, o meu, diga-se de passagem era um embargo só. no meu sonho já tinha ouvido ele
falar, segurando o meu cabelo: "se fosse naquele tempo, se você tivesse me falado na hora
certa, você sabia qual era a hora certa... mas agora?". Eu calei a boca. Tremi inteira como de
costume, o destino era todo ali na minha língua. E ela estava cambaleante, ela estava
desesperada, ela queria por tudo sentir o cheiro. Mas ela não gaguejava, porque sou forte e dura.
e eu adorava aquele homem.
sentimentalismos à parte, a carne pedia e eu não devia negar, não é certo negar-se algo assim.
não é certo porque éramos livres e desempedidos. mentira, éramos duas pessoas morrendo de medo
de ficar sozinhas. disse umas coisas partidas, ouvi fragmentos, nem me lembro mais. desliguei.
que solidão preciosa em cima da cama e eu nem pensava mais se receberia ou não alguma visita.
torpor do bom e campainha. campainha tocando. já era ele.
por isso dou um bom conselho a quem interessar possa: use sua língua, deixe ela entrar onde ela
quiser e bem entender, seja coração, dor, seja corpo, seja dente, seja boca, seja pele, seja
sabor. deixe ela entrar e se divertir mais um pouco. e não cale a língua de dentro da sua cabeça.
nem por medo.

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