leite ninho
pensei em lhe contar sobre um defeito que tenho na coxa esquerda, mas achei melhor deixar pra
lá, isso não vai ter importância, você já deve saber.
quando você esteve perto por um instante eu vi, ligeiro, pois cada segundo é mesmo eterno já que
faz parte do infinito universal. é bom lembrar que foi tudo quase instantâneo.
eu vi você. eu vi você rápido e não vou dizer que vi o amor porque esse eu vejo todos os dias,
o tempo todo. eu tenho amor em quilos dentro e ele se torna em raiva, em mágoa, em flores para a
mamãe... ele se torna em figuras, ele conhece gente que nem conhecia e que muda tudo, ele conhece
a mim e me faz outra. em suma, não deve ser necessário dizer aqui o que é amor. também não tem
necessidade de falar sobre olhares que se entendem e são um, drummond já fez isso muito bem.
eu vi françois truffaut e o truffaut que criei com minhas impressões quando olhei para você, vi o que sentia quando ouvia dizer do amor, do bem, do feliz. vi coisas, é sobre visões que vim falar. você se deixou conhecer por mim em segundos. entendi a sua lógica, entrei no seu espaço, naquele momento ninguém era mais você que eu.
dentro dos tênis de cano baixo pés fortes e brancos, lindos. percebi que nos pêlos da perna
haviam falhas, cicatrizes de brincadeiras 'de menino' na infância, muitos divertimentos. poucos
pêlos outros, corpo bem à mostra, meio infantil e branco, sempre branco. gestos das mãos
encantadores, não encantados, encantada estava eu. no meio de todo mundo e da fumaça de marlboro
lights, notei tudo, eu fui chamada pra assistir você. na hora em que o seu sangue começou a correr em mim eu estranhei, pedi calma, eu permitiria aquilo? ninguém era mais eu que você. não tinha mais jeito e o sabor dos seus glóbulos sangüíneos era muito bom, quis parar senão perdia a consciência de mim e não quero podar-nos. nós dois um. então eu disse pra não deixar de ser você, que eu amo é isso aí. nós um, dois. rápido assim, instantâneo feito leite ninho.
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