20021220

{xylocaína}

resolvi que eu mesma ia me torturar, era mais digno do que deixá-lo esse trabalho.
existiu um tempo onde menti muito e permiti muitas injúrias da tua parte, acreditando piamente na necessidade do encontro e de viver durante algum período da vida encrustada em ti.
inventei desculpas, forjei declarações que nunca disse, senti o ciúme que (graças) nunca exprimi, masturbei o sexo que deixei de gozar, tudo isso muito bem calada pra evitar tua partida. tua constante ameaça de ir embora implícita em cada gesto, nas palavras, a toda hora, mesmo quando o teu órgão genital ineficientemente travava batalhas contra minha timidez.
a despeito do real apreço pela opinião alheia, comecei a induzir em mim um comportamento estranho. acreditava que qualquer outro ser no mundo (exceto eu) podia estar mais certo, ter melhores condições de avaliar uma determinada situação.
essa patologia devia ser reflexo da mentira que circundava o meu ambiente, se não um sinal de coisa mais grave: minha confiança estava terrivelmente abalada. quando dei conta, senti humilhação terrível. depois de uns dias de susto, deixo pra lá: alguma coisa nos meus 25 anos serviram de experiência, não acho mais que tudo é o fim, por exemplo. e aceito a humilhação como quem está convicto de que o fez por amor.
decidi não mentir tanto: apesar da verdade dos outros poder ser realmente muito boa, há a necessidade de ter em si alguma verdade. é uma explicação que tem de ser feita sem palavras, mas parece bem compreensível aos seres humanos. A necessidade de um original, qualquer que seja, em sua unidade. Eu podia ser só.

0 Leram ou Não:

Postar um comentário

<< Home