20030219

[há anos]

Eu sou um homem apaixonado. Estou seriamente desconfiado de que não existe mais gente assim, nesse estado. Nunca mais ouvi ninguém falar nisso, todo mundo desaprova. Acontece que eu não tenho solução e ela é linda demais. Acho que estou deplorável de paixão, há anos.
Essa noite tive um susto: me vi olhando, catatônico, para seus copos e talheres, aqueles que ela tinha usado. Quis as bitucas de cigarro com batom rosa -que ela quase nunca usa, mas deixou marcados no cinzeiro hoje. Só que de nada adianta, não existem olhos pra mim. Não existem mais olhos pra mim.
Vestidos e outras peças de roupa me cercam o dia inteiro. De manhã, de tarde e de noite. Permita-me, menina, esse abuso com sua pessoa. Passo um bom tempo ocupado em livrar meu pensamento e é pior, adoeci de você.
Quando fui dormir, concentrado em uma lembrança de algum dia mais inteiro, com ela, percebo. Percebo que não sou infeliz longe de quem amo, somente um pouco menor... Embora finja que não sei, é sempre melhor quando não me sujeito aos seus caprichos. Porque não preciso me humilhar.
Por um minuto, penso em como seria vê-la sem tanta agonia e fico aliviado. É uma escolha minha, depende de mim, e me culpo, torturado.
Às quatro da manhã estou puto da vida. Pelo amor de Deus, vá embora, passe sem me deixar tonto, não entre no meu sonho, não cheire tão bem, não tenha olhos tão bonitos, cumpra as regras que lhe imponho.
Em outro instante, desejo que ela esteja sempre perto ou não tão longe, pra eu não ficar completamente sozinho, que é meu medo. Viro pro lado e durmo.

[mais uma coisinha para este blogue, que há de ressurgir bom]

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