20030308

isso doeu. no meio da multidão, uma mulher fumando machucou meu cotovelo. a brasa ficou coladinha no meu braço durante tempo suficiente pra provocar uma queimadura. estava naquele momento repleta de mágoas mal resolvidas e nem um pouco disposta a sacrificar meu dia por elas. decidi sair do meio da confusão justamente para não me sentir mais tão desconfortável, quis me
livrar das cotoveladas e empurrões o quanto antes.
hoje em dia estou irreconhecível, visualmente pouco sobra de anos atrás. mantenho os cabelos curtos e uso alguma maquiagem preta nos olhos, me agrada. imagino às vezes o quanto nessa aparência há um quê de mulher moderna. devem imaginar que sou de plástico também, material moderno. mas meu humor instável não me deixa mentir, existe víscera.
a referência ao passado se justifica no acontecimento seguinte: o encontro. rendezvous. a expressão francesa para 'encontro' sempre me faz lembrar 'renda-se', em português. renda-se você. eu não me rendi, em momento algum. sinto que nesse momento devo calar as palavras explícitas, elas me colocariam em situação difícil.
dois anos atrás não tinha mais nada a dizer além de "você sabe que está certo", era mais simples. se você pensava que eu ia fraquejar, que ia pedir pra voltar, não falei nada além de "animal". agora mais ainda, que vi você ali na rua e tremi, não havia palavras. tudo isso é normal e passou. eu senti indo embora uns pedaços através de um choro discreto, lógico, não gosto de esparro. as pessoas no caminho olhavam pra mim, andando determinada e bonita. sim, é isso mesmo, ele achou, tenho certeza.
você nunca termina, mas agora chegou a vez de outras pessoas. você definitivamente entra para a história e fica lá, longe de mim, por favor. é melhor viver solta, sem ninguém pra me prender. você sabe que está tudo certo. e pronto.

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