Num Monumento à Aspirina
Claramente: o mais prático dos sóis,
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda a hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia. ...
[meu querido poeta joão cabral de melo neto, sobre comprimidos]
***ele era viciado em aspirina. tomava uns dez comprimidos por dia, tinha dor-de-cabeça constante sem eles. um homem metódico e ansioso, quando leio sobre ele lembro de uma amiga. eu invejo joão cabral, eu me identifico com joão cabral, eu não entendo joão cabral e o amo, intensamente. encontro um raciocínio encantador em tudo que ele me diz, sim, me diz. linha lógica que pensamentos que me satisfaz, ainda que não compreenda tudo com palavras, apenas com um tipo de sensação que experimento com música. bom, vou ali pensar, que tem gente me forçando a isso. estou adorando. são eles, eles estão vindo.
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