20040518

[título]

perdi a mim mesma em algum vazio do cérebro. no tamanho de cada ser - infinito - e eu também sou. o branco, branco nuvens do céu, sugeriu a palavra e a perfeição. nosso mundo terreno não se organizaria assim de forma tão natural quanto nesse oco meu. e eu estou lhes dizendo: todas as engrenagens funcionando corretamente, lubrificadas em seu óleo eterno, automático. e todas as pessoas sossegadas como nunca foi visto, por pura vontade de ser tranqüilo e consciência.

um som de música abrirá a porta do que ainda não veio e da terra prometida a qualquer momento do seu dia, portanto cuidado. haverá o dia em que todos serão atingidos, ainda que demore. ele vem como lembranças do que a gente via quando era criança, do não-sei-onde desses lapsos entre o sono e a vigília. o sono é o abrigo subterrâneo do meu espírito. o sono e o som da música.

eu no meu abrigo sonho com o limbo. ele é um lugar perigoso de tão limpo - para nós que somos sujos, dá medo de entrar de tão puro, como o medo que as crianças têm das orações de tão sérias que são as rezas. e por que branco, porque branco esse som abriu em mim e as cores todas outras ficaram de lado. num estado entre o dormindo e o acordado pode-se pensar qualquer coisa sem que pareça um absurdo. o que importa é que lá é imenso e moram todas as pessoas, em seu estado mais perfeito. quando em algum tempo (tudo tão indefinido) formos todos e não um só até lá, passar adiante, vocês vão saber do que eu falo. cuidado, porque todos serão atingidos e a luz dói nos nossos olhos fechados do escuro.

mas eu percebi. percebi que estava assim e acordei. você se perde. e então você percebe que se perdeu. e então se acha.

veio à memória o dia de ontem, que agora a pouco (antes de dormir) era hoje. as pessoas dormindo no ônibus de volta do trabalho, calmas no caos dessa cidade às seis da tarde, hora do angelus.
santo momento de ficar em paz. o dia se casou com a noite em comunhão de bens e às seis da tarde eu nasci.

isso traz os sentimentos bonitos e grandes, assustadores e incompreensíveis, tudo isso ao mesmo tempo: ficar comovido e a melancolia. fala de tudo, de completo e de mais alguma coisa que não sei.

e por enquanto, cair no branco de vez em quando por um motivo qualquer que me leve a ele. preciso viver no vermelho do ventre de minha mãe, no tempo que me foi dado, do planeta em que me encontro, porque sou humana.

***
[essas coisas que me dão certa agonia]
***

{svefn-g-englar = sleepwalkers
* sigur rós}

{"num plano, a exuberância solar de villa, que consome o universo. no outro, intimidades lunares, um tipo quase calado de inteligência do coração."
* arthur nestrovsky sobre as bachianas brasileiras 1 e 5 pela osesp}

{All my lovers were there with me
All my past and futures
And we all went to heaven in a little row boat
There was nothing to fear and nothing to doubt
There was nothing to fear and nothing to die
There was nothing to fear and nothing to doubt
* pyramid song * radiohead}

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