o lirismo dos cachorros da rua.
o lirismo dos cachorros que andam sozinhos pela rua.
às vezes, sem precisar de ninguém.
[corta]
está chovendo e faz muito frio,
tudo está cinza, mas eu não acho ruim.
aprendi a não me importar,
e depois, logo depois,
aprendi a gostar do meu inimigo, o frio.
logo mais já não era mais tão ruim.
o motivo é simples,
aprendi a
me agasalhar,
e desse jeito,
aproveitar
o que era dado pra mim.
[corta]
no frio tem alguém que mora,
e parece que na rua.
se repetindo tanto na minha cabeça,
as palavras rua e frio,
rua e frio, rua e frio.
[corta]
você é uma das imagens que lembro do frio,
o frio quando doía a espinha.
o frio martelando em todo lugar que eu fosse,
não tinha jeito.
você é uma das imagens líricas que eu lembro do frio,
porque não parava em mim e
me doía a espinha, e
eu não me esquecia, mas
está sempre aqui, eu
aprendi a me agasalhar.
[corta]
está quente, muito quente aqui dentro.
e tem um cheiro ótimo tudo aqui.
está quente, muito quente, agradeço
a deus por estar aqui.
[corta]
um cachorro
vê em preto e branco
e não interessa se é sol ou chuva,
é preto e é branco.
ele aparece, às vezes,
sozinho ou em bando,
não interessa.
[corta, e apita, fim]
isso é quase um poema, mas se fosse um filme - ah, se fosse um filme! - seria, obviamente em preto-e-branco. mais lírico porque, talvez, menos real - se vê em colorido. real?
os cachorros, dizem, vêem em black and white. talvez por isso o lirismo dos cachorros, na chuva cinza.