20021220

{milagre dos peixes}

Tenho perdido muito sangue ultimamente. Nos lábios, secos por causa do sol que tomei; na pele, com a pinça tirando os pêlos que não quero no corpo; nas letras aqui; na menstruação; nas feridas que eu mesma cometi com gilete. Entrego o sangue de coração, é o que tenho.
Tenho me deixado nua em frente a homens que não sabem quem sou. Nem queiram saber, talvez. Mostrei o que quis pra ver como era e entreguei meu corpo de coração, é o que tenho.
Eu me perdi, me perdi no mundo de mim mesma, é o único que tenho. E não me importo mais em distribuir, é espalhar o que sou. Não me importo mais.
Mas enfim eu sempre finjo, e finjo que me escondo, quem vai saber? Ainda assim, não deixo de me despir, de me despir dizendo que a minha nudez é de quem gosta de mim.

[registrar o momento. texto-fotografia. sem retoque. embora ainda não se saiba fotografar bem.]
{gostaria muito de não ser tão hzenta às vezes, mas me falta capacidade}

mais um texto dos outros, enquanto não saio dessa maré de mulher desabafando dores de amores.

["Não se esqueça por favor que você é um ancião de 500 anos no vício de uma ideologia. Pra abrir caminho, pra se justificar diante de si mesmo, diante da vida e de Deus, você tem de abrir é estrada larga, franca. E no seu caso, o seu maior perigo é ser si mesmo. A tal de "sinceridade" que você invoca é o seu maior perigo. E que sinceridade se você não é você! A sua sinceridade por enquanto é a sua espontaneidade. E a sua espontaneidade são dez milhões de anos de crimes humanos, dois mil anos de traição ao Cristo, duzentos anos de burguesia capitalista, vinte e um anos de filhinho de papai, quinze anos de aluno de escola e professores que ensinaram de acordo com tudo isso. Isso é sua "sinceridade". E você sabe que ela não vale um tostão. Porque até agora escolheram por você. Agora é que você vai escolher."] mário de andrade em carta para fernando sabino

e se fernando sabino é isso aí imagina eu! hahahaha!
blog é legal, é espaço livre. e foda-se o resto, é só o que posso fazer.

{xylocaína}

resolvi que eu mesma ia me torturar, era mais digno do que deixá-lo esse trabalho.
existiu um tempo onde menti muito e permiti muitas injúrias da tua parte, acreditando piamente na necessidade do encontro e de viver durante algum período da vida encrustada em ti.
inventei desculpas, forjei declarações que nunca disse, senti o ciúme que (graças) nunca exprimi, masturbei o sexo que deixei de gozar, tudo isso muito bem calada pra evitar tua partida. tua constante ameaça de ir embora implícita em cada gesto, nas palavras, a toda hora, mesmo quando o teu órgão genital ineficientemente travava batalhas contra minha timidez.
a despeito do real apreço pela opinião alheia, comecei a induzir em mim um comportamento estranho. acreditava que qualquer outro ser no mundo (exceto eu) podia estar mais certo, ter melhores condições de avaliar uma determinada situação.
essa patologia devia ser reflexo da mentira que circundava o meu ambiente, se não um sinal de coisa mais grave: minha confiança estava terrivelmente abalada. quando dei conta, senti humilhação terrível. depois de uns dias de susto, deixo pra lá: alguma coisa nos meus 25 anos serviram de experiência, não acho mais que tudo é o fim, por exemplo. e aceito a humilhação como quem está convicto de que o fez por amor.
decidi não mentir tanto: apesar da verdade dos outros poder ser realmente muito boa, há a necessidade de ter em si alguma verdade. é uma explicação que tem de ser feita sem palavras, mas parece bem compreensível aos seres humanos. A necessidade de um original, qualquer que seja, em sua unidade. Eu podia ser só.

20021214

comprei uma calcinha maravilhosa. tactel é fantástico. e viva a tecnologia!

20021209

[a boa nova]

ter sentimentos mais autênticos
deixar ver algo inédito.
de repente haja novidades onde não se esperava
nada surpreendente.

sentidos novos existem
sendo somente uma questão de olhos.
de quantos paladares se quer pra si,
de quantas audições se pode dar
a um mesmo problema.

se você vier me perguntar por onde andei no tempo em que você sonhava de olhos abertos lhe direi amigo eu me desesperava sei que assim falando pensas que esse desespero é moda em 76 mas ando mesmo descontente desesperadamente eu grito em português tenho 25 anos de sonho de sangue e de américa do sul por força desse destino o tango argentino me vai bem melhor que o blues eu quero é que esse canto torto feito faca corte a carne de vocês. {antônio carlos belchior}

20021206

lendo os ARQUIVOS deste, vi um post de 18-09 e lembrei da parte que não enviei:

**começava assim**

as dores são tantas e tão grandes
que a gente tem que passar por dentro delas.
dentro de cada pedaço,
pra conhecê-las por inteiro
e assim poder matá-las.
só quem conhece a gente por inteiro pode nos matar.

**terminava assim**
[preciso desinflamar meu dentro, as carnes moles internas. preciso expectorar o catarro dos
pulmões e contar tudo o que devo. o xarope eu conto depois.]


essa figura aparece depois, paciência. afe!



[from a great height, from a great height.]

a chuva sofre,
vê uma enorme distância
entre ela e o chão.
vê o fim todo o tempo,
espera por ele.
a chuva é cinza
por isso.

a chuva cai e fica tudo bem.

{um jeito besta de dizer as coisas}

eita porra, tá foda. alguém ainda vem aqui? isso aqui tá ruim, tô gostando não. nunca mais tive condições de escrever minhas historinhas, nem de pensar em coisas novas pra dizer. é aquele negócio: acho que todo mundo apostou um pouco na falência desse meu gênero. mas ainda há coisas pra se escrever, legais até. o que não suporto é essa sensação de ter que colocar algo bom aqui. de vez em quando eu sou autocrítica, e sei que posso fazer lixos imensos, chatíssimos. mas tem também os textos que gosto, eles são cheios de verdade. se têm sangue é o que importa. portanto, não vou ficar mais escrevendo um monte de bosta pra não deixar o blog morrer, porque eu gosto do meu comprimido (sua intenção é autêntica - o texto-título diz tudo). e também espero que os leitores gostem, claro. no momento, estou um pouco ocupada. não é que esteja atolada de trabalho ou coisa assim, estou somente dando a mim o tempo que quero e pronto. com licença, eu vou viver. daqui a pouco eu conto o resultado das minhas novas experiências. e outra, dá tempo da criatividade voltar, de inventar novidades, já que não vou dar tanta corda assim ao voyeurismo de ninguém. minha vida é minha. minha cabeça tem espaço ainda pra muitos delírios infanto-juvenis, pra imaturidades consecutivas e definições inúteis. ela ainda se quebra tentando me fazer alguém decente. e eu ainda vou insistir em escritos de qualidade duvidosa.

ah, a última coisa: não é uma justificativa, é só um aviso.

20021203

nem sei se é justo, mas senti coisas quando lhe ouvi. não sei se eu tinha o direito de entrar nisso, mas somos um. no mundo inteiro a gente se junta enquanto dorme, num lugar onde não há tempo. por isso não importa o seu fuso.
você se pôs em público, saiu de casa. procuro com as pessoas chegar tão longe quanto você invadiu, você me invadiu.
eu fui pra mim mesma por sua causa. mas garanto, há algo de você em tudo, no igual, há você em mim de quaquer jeito agora.

to thomas, my trip.